Condenados há quase 30 anos por assassinar os pais em um crime brutal no final da década de 80, os irmãos Menendez podem ter uma chance de sair da cadeia.
Audiências em Los Angeles nesta quinta-feira (17) e nesta sexta-feira (18) podem decidir por uma nova sentença, que tornaria Erik e Lyle elegíveis para a liberdade condicional.
A possibilidade de soltura tem crescido nos últimos meses após o então procurador distrital de Los Angeles, George Gascón, recomendar no ano passado uma nova pena para os irmãos, que protagonizaram um dos casos de “true crime” mais emblemáticos dos Estados Unidos, inspirando a terceira temporada da série “Monstros” da Neftlix.
Em 20 de agosto de 1989, José e Kitty Menendez foram mortos a tiros de grosso calibre dentro da sala de televisão da mansão da família, no luxuoso bairro de Beverly Hills, na Califórnia.
Pouco depois, Lyle Menendez ligou para os serviços de emergência fingindo estar desesperado após encontrar os pais mortos em casa.
A cena do crime chamou a atenção pela brutalidade: os corpos do casal estavam desfigurados e havia muito sangue no local.
O modus operandi fez a polícia acreditar, inicialmente, se tratar de um crime cometido por mafiosos, teoria que chegou a ser defendida pelos irmãos para tentar despistar as autoridades.
José Menendez trabalhava na indústria do entretenimento que, na época, tinha influência da máfia.
Mas a farsa dos irmãos acabou desvendada após Erik confessar o assassinato a um psicólogo e um áudio da admissão de culpa chegar até a polícia.
O caso cativou os EUA na década de 1990 devido à riqueza e aos privilégios dos irmãos como filhos de um executivo da indústria do entretenimento.
Lyle tinha 21 anos e Erik, 18, na época dos assassinatos.
Eles alegaram depois que se tratava de legítima defesa porque o pai, José, abusava sexualmente deles e a mãe não fazia nada para impedir isso.
Os dois também chegaram a dizer que corriam risco de morte. Nenhuma das alegações foi comprovada de forma definitiva à época.
Os promotores, enquanto isso, destacaram que os assassinatos foram premeditados, cometidos para que os homens pudessem obter o patrimônio multimilionário dos pais.
Um júri os condenou em 1996 por homicídio em primeiro grau após o segundo de dois julgamentos amplamente divulgados, o primeiro dos quais terminou com um júri empatado.
Alguns membros da família Menendez apoiaram a libertação dos irmãos, incluindo as irmãs de José e Kitty Menendez.
Uma exceção notável — Milton Anderson, irmão de Kitty Menendez — faleceu recentemente. Anderson se opôs repetidamente à libertação deles e contestou as alegações de abuso.
O esforço para reexaminar o caso começou em 2023, quando uma série documental do Peacock apresentou outra suposta vítima dizendo que foi estuprada por José Menendez – o pai dos irmãos.
Os advogados dos irmãos Menendez entraram com uma petição de habeas corpus pedindo ao tribunal que reconsiderasse a condenação e a sentença à luz de novas evidências da outra suposta vítima e de uma carta que Erik escreveu sobre o abuso antes dos assassinatos.
Em outubro, o procurador público do condado de Los Angeles, George Gascón, entrou com uma moção recomendando que o juiz sentenciasse novamente os irmãos, o que poderia permitir que eles fossem soltos imediatamente.
O argumento era de que, ao longo das mais de três décadas na penitenciária, Erik e Lyle mostraram comportamento exemplar e lideraram iniciativas para bom convívio e reabilitação dos internos.
Eles criaram programas de meditação, terapia em grupo sobre traumas da infância e apoio a pessoas com deficiências e idosos.
Além disso, o procurador argumentou que o suposto abuso sexual sofrido pelos irmãos seria percebido de forma diferente pela sociedade atualmente e, por isso, o resultado do julgamento seria outro hoje.
Nos Estados Unidos, alguns procuradores distritais são eleitos pelo povo e, na mesma disputa que levou Donald Trump de volta à Casa Branca, George Gascón perdeu a reeleição e teve que deixar o cargo.
Ele foi substituído por Nathan Hochman, que não é a favor de uma nova chance para os irmãos.
Hochman afirma que Erik e Lyle não aceitaram totalmente a responsabilidade pelo assassinato dos pais, argumentando que eles insistem em mentir sobre o caso.
Ele também não considera críveis as evidências de que houve abuso sexual.
